Com a pressão cada vez mais urgente das mudanças climáticas e do crescimento demográfico e urbano, o conceito de construção sustentável ganhou cada vez mais importância. Contudo, com o aumento de interesse nesse tema, surgiram também uma série de mitos.
1. A construção baseada na arquitectura sustentável é mais cara
A convicção de que a arquitectura sustentável é mais dispendiosa do que a dita “arquitectura convencional” é compreensível, mas não podia estar mais errada.
Sabia que a energia operacional, ao longo da vida útil de uma típica moradia, será dez vezes maior do que a energia utilizada para a construir?
Uma habitação é um investimento, mais precisamente, um investimento a longo prazo. Se isso é verdade para uma construção convencional, é ainda mais para uma construção sustentável. A arquitectura sustentável, permite-nos construir uma Passive House (lê o artigo O que é uma Passive House?), com um consumo de energético quase nulo, o que nos permite economizar em larga escala ao longo da nossa vida, e recuperar rapidamente o nosso investimento inicial.
2. Arquitectura sustentável é um estilo/moda
A frase “a ecologia é uma moda, como todas as modas vai passar” está totalmente ultrapassada. O design consciente e sustentável veio para ficar, sendo até a sua importância reconhecida pela ONU nos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030.
As edificações e as cidades apenas serão sustentáveis se nos propusermos a construí-las dessa forma. Essa construção requer uma compreensão interdisciplinar de aspectos económicos, sociais, ambientais e técnicos que devem ser aplicados desde o início. Depois de elaborado o projecto de um edifício, é tarde demais para o tornar sustentável. Os recursos adicionados posteriormente, conhecidos como ecomaquilhagem pouco ou nada contribuem do ponto de vista ambiental.
3. Uma construção moderna é uma construção sustentável
Já pensou, que o edifício mais sustentável, pode ser aquele que já existe?
Uma edificação já existente, adaptada para um novo uso, melhorada em termos energéticos, cumprindo com os novos padrões de isolamento térmico e ventilação, pode proporcionar um espaço saudável e de alta qualidade, muitas vezes com uma melhor relação custo/benefício.
Existem demasiadas edificações desabitadas, nas nossas cidades, com um enorme potencial para casas, comércio ou serviços que acabam muitas vezes por ser demolidas, quando estão num estado razoável de conservação e com bastantes elementos já presentes que nos vão ajudar a economizar na aquisição de materiais base.
4. A arquitectura sustentável, é feita de materiais sustentáveis
Esta afirmação, é neste caso, uma meia verdade, sendo que ambos serão necessários. Até porque hoje em dia, há diversos requisitos que devem ser cumpridos ao nível da segurança sísmica e contra incêndios.
Todos os materiais de construção possuem energia incorporada: a energia gasta na sua extracção, produção, transporte e instalação. Devemos tentar reduzir a energia incorporada através de materiais locais, e edificações duradouras, adaptáveis e de baixo consumo energético. O uso de materiais como o betão, tijolo, vidro e isolamento devem ser utilizados com moderação, e utilizados de forma a reduzir a energia operacional.
Por exemplo:
O betão deve ser utilizado na laje pelas suas características de rigidez e também de termoacumulação, permitindo um maior ganho energético e um gasto menor em aquecimento.
O vidro, permite ganhos solares que também nos garantem um grande ganho energético no Inverno, mas devem ser aplicados de forma moderada para garantir que a casa não sobreaquece no Verão.
O tijolo garante uma grande estabilidade térmica, contudo, tal como os materiais acima mencionados, são materiais que dificilmente ou até nunca são passíveis de ser reutilizados, quando é necessária uma demolição.
Este factor faz com que o final de vida do edifício seja muito pouco sustentável, uma vez que estes materiais são considerados “ não renováveis (apenas podem ser “explorados” uma única vez.)
Contudo para saber sobre este assunto de uma forma mas detalhada, aconselho a leitura do artigo Quais são os materiais construtivos mais sustentáveis?.
5. As casas contentores são mais sustentáveis
É uma das soluções construtivas da moda neste momento. A utilização de contentores marítimos como casa, chama à atenção pelo seu preço, e rapidez de construção.
Muita gente acredita também que são uma alternativa ecológica face aos métodos de construção comum. Contudo, isto só se verifica quando o contentor em questão é reciclado, e não implica uma entrega longa e específica para esse propósito, caso contrário, a quantidade de recursos utilizados para a construção e transporte de um contentor novo é bastante elevado para ser considerado sustentável.
Além do fator da pegada ecológica, existe também a questão do seu desempenho. Em termos de qualidade do ar, caso o contentor seja reciclado, existe uma boa probabilidade de já ter transportado substâncias tóxicas, que afectam a qualidade do ar quando convertidos em habitação. A ventilação será sempre necessária, mas neste caso deverá ser exímia.
Por fim, existe também a questão do desempenho térmico. O revestimento em aço faz com que as condições de habitabilidade sejam nulas tanto no inverno como no verão, sendo então necessário a escolha de um isolamento eficaz e de acordo com as normas sustentáveis.
Para mais esclarecimento sobre isolamentos lê o artigo Como devo escolher o meu isolamento?.